Mercado de trabalho: ainda existe tabu?
- Isadora Carniel
- 12 de abr. de 2017
- 3 min de leitura
A tatuagem está presente na humanidade desde o Egito Antigo, época na qual viveu Amunet, a múmia encontrada com traços e pontos inscritos na região abdominal, o que indica que a arte poderia ter relação com cultos à fertilidade. Porém, apenas na sociedade contemporânea que surgiu a tatuagem como conhecemos, com a invenção da máquina elétrica de tatuar, em 1891, e assim, no final do século XX, a arte se tornou uma característica quase exclusiva de marinheiros e presidiários, fato que, segundo a psicóloga comportamental, Taís Nascimento, desencadeou o preconceito com a tatuagem que persiste até os dias atuais.

Este preconceito é enfrentado principalmente pelos tatuados no mercado de trabalho, em algumas profissões. O bancário Lucas Pereira, que possui tatuagens nos dois braços, conta que não enfrenta problemas por causa do uso obrigatório de roupa social em seu trabalho, mas fala que se o ambiente fosse outro, ele seria mais cauteloso. “Nunca sofri preconceito por ter tatuagens na altura da manga na camiseta, mas tenho certeza que se fosse a vista do entrevistador eu esconderia por medo de preconceito”, conta.

Mesmo que em áreas como a da saúde, do direito, das finanças e da engenharia possam ser mais conservadoras e com maior resistências à tatuagens, estão se tornando cada vez mais comuns empregos considerados mais flexíveis e liberais, como as áreas de cultura, beleza, tecnologia e comunicação. O emprego da Giovanna Rímoli, que possui 24 tatuagens, é um exemplo disso. Ela conta que seu primeiro emprego no mercado da moda, ela conseguiu justamente por causa de suas tatuagens: “A empresa era nova e estava começando com um novo conceito de atendimento, assim, eles buscavam apenas pessoas que saíssem um pouco dos padrões impostos”, ela explica. Para a especialista em recursos humanos, Paula Mattus, atualmente, a aceitação das empresas vem aumentando, pelo fato de seus dirigentes entenderem que a tatuagem é uma expressão pessoal, que não interfere na capacidade profissional. “Hoje a aceitação é muito maior, mas ainda existem empresas que mostram restrições. O que se percebe é que tatuagens pequenas, mesmo a mostra, não causam um grande impacto, e as tatuagens maiores podem ser um fator de avaliação. Mas as empresas já entendem que não é a tatuagem que define o profissional.”

O problema maior enfrentado pelos tatuados é em relação aos empregos com atendimento ao público. A Giovanna e o Lucas passam pela mesma situação, em que estão em contato direto com o público em geral, o que pode levantar diversas opiniões sobre a tatuagem, positivas e negativas.

A profissional em recursos humanos explica que profissões que fazem atendem o público devem sempre se preocupar com o que pode ofender a outra pessoa. “Em locais de prestação de serviços, as empresas costumam ter maior cuidado com a exposição da tatuagem, já que está lidando com a cultura do outro”, explica. Outro fator que pode acabar trazendo para a pessoa uma imagem de hostilidade, e nocividade, são os locais escolhidos para a tatuagem. Pelo fato de não serem muito comuns, locais muito expostos podem atrais maus-olhares, como explica a psicóloga Taís: “Tatuagens feitas em rosto, mão ou outros locais muito visíveis não passam uma boa mensagem para grande parte da sociedade, por ser muito diferente do comum”.

O que se percebe é que esse preconceito muita vezes é disfarçado, e pode levar a demissões “camufladas”. Sendo assim, segundo o presidente do Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Campinas (OAB), Paulo Braga, nenhuma pessoa deve ser discriminada por possuir ou não a tatuagem, mesmo não possuindo uma lei específica sobre o assunto, e quem se sentir ofendido, deve acionar a justiça. “A pessoa precisa ajuizar uma ação de indenização. Além disso, é importante que seja feita uma denúncia no Ministério Público Federal de defesa do cidadão”, explica Paulo Braga.
Para Paula Mattus, é tudo uma questão de evolução. Em todos as época existia alguma característica que poderia ser mal vista pela sociedade, mas a visão da sociedade, e também do mercado de trabalho, vão mudando com o passar do tempo. “Antigamente falavam de corte de cabelo, de cor, mas hoje tudo isso está mudando. As empresas não estão mais preocupadas com a vida pessoal, mas com a vida profissional. Tudo isso está em movimentação, e as expressões do comportamento estão em mudança.”, conclui.



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